Dois políticos chegaram ao status de semideuses no imaginário da sociedade brasileira: Lula e Sérgio Moro. Lula, porque colocou comida na mesa e TV de tela plana nas paredes das casas dos eleitores mais humildes. Sérgio Moro, porque levou à opinião pública uma ideia de Justiça na qual ninguém acreditava: no Brasil, ricos e poderosos também podem ir para a cadeia.
Lula, no final do seu segundo mandato, chegou a inacreditáveis 82% de ótimo de bom, segundo o Datafolha. É bem verdade que contou com um monumental e eficiente esquema de comunicação. Moro, em março de 2016, apenas com mídia espontânea, chegou a 65%. Nada mal para um juiz de Curitiba, até então pouquíssimo conhecido e sem nenhum carisma nas telas de TV.
A Lava Jato era unanimidade nacional. As operações se sucediam a um ritmo alucinante e Moro virou um juiz superstar, algo tão conveniente quanto um diretor de bateria de escola de samba desanimado. Esperto, Bolsonaro percebeu que ele poderia representar, em seu governo, um dos eixos de sua campanha: o combate à corrupção. O liberalismo ficaria com Paulo Guedes e a pauta dos costumes seria gerida pela infantaria ligeira, com Damares, Ricardo Salles, Ernesto Araújo etc.
Hoje, o inexperiente Moro é mais interessante para Bolsonaro do que Lula. Comida na mesa e TV na parede são mais concretos do que um ideal de Justiça. A aprovação do trabalho do juiz de Curitiba caiu de 65 para 45%, ele – pasme – trabalha num escritório que defende a Odebrecht e sua saída do governo Bolsonaro o chamuscou. Ainda é forte, mostram as pesquisas. Agora colocado sob suspeição, é uma pálida sombra do que foi.
Fonte: Estadão