Cestas básicas beneficiam mulheres vítimas de violência e acidentadas na pandemia

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(FOLHAPRESS) – Como diz Rodrigo Fernandes Afonso, 46, diretor-executivo da Ação da Cidadania, a campanha Natal sem Fome, que a instituição realiza desde 1994, é uma “ação simbólica, uma gota no oceano”.

Mesmo assim, já beneficiou mais de 20 milhões de pessoas nesse quarto de século.

A campanha Ação contra o Corona, que a ONG promoveu, foi um dos 30 destaques do Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19 e levou 8.000 toneladas de alimentos a milhares de famílias durante a pandemia.

Talvez seja também uma gota no oceano, mas, para os que a recebem, pode ser a boia que salva do afogamento.

Uma das beneficiadas é Fabíola Alves dos Santos da Cunha, 38, que mora no bairro Gramacho, em Duque de Caxias (RJ). Casada, tem três filhos e enfrenta um câncer de mama há cinco anos.

Por causa do tratamento contra a doença, ela não pode trabalhar. Como efeito da pandemia, os dois filhos menores deixaram de ir à escola, onde recebiam alimentação, e o filho de 20 anos perdeu o emprego numa empresa de telemarketing; ficou apenas a renda do marido.

“Para tentar ganhar um dinheirinho, eu levo alguns cosméticos para vender na lojinha de doces da minha cunhada. Mas é pouca coisa”, diz ela.

Desde 2018, Fabíola é voluntária da Amac (Associação de Mulheres de Atitude com Compromisso Social), ONG de acolhimento que dá assistência a mulheres vítimas de violência doméstica.

Tendo sido ela própria vítima de agressões em um casamento anterior, Fabíola dá palestras sobre o tema na entidade. “Não tinha como denunciar a violência que eu sofria, porque a gente morava em comunidade, todos se conheciam. Mas graças a Deus consegui sair viva, muitas não conseguem.”

A Amac sempre recebeu cestas da Ação pela Cidadania nas campanhas do Natal sem Fome para distribuir em sua área de atuação, e foi assim que Fabíola conheceu a campanha Ação contra o Corona e foi uma das beneficiárias.

A partir de maio, a família passou a receber mensalmente as cestas básicas entregues pela campanha.

Foi uma gota no seu oceano? “Olha, resolveu bastante o nosso aperto. A gente a partir de então passou apenas a precisar complementar o que recebíamos”, conta.

Não muito longe de Fabíola, mora Alessandra Ferreira da Silva, 38. Sua vida vinha andando normalmente até outubro de 2018. Saía de casa às 4h30 para ir ao trabalho de ajudante de cozinha em uma empresa no bairro de Botafogo, no Rio, e voltava entre 18h40 e 19h02.

“Sei bem o horário porque, se demorasse um minuto a mais para chegar em casa, minha filha já me ligava para saber se estava tudo bem.”

Mas naquele outubro perdeu esse emprego. Divorciada, com seis filhos -cinco morando em casa, porque uma mora com a avó-, viu a situação se complicar. Começou a fazer faxinas, vendia uns cosméticos, lixava carros em uma funilaria e emprestava a moto de amigos para entregar botijões de gás.

Em janeiro deste ano, uma amiga a chamou para trabalhar em dois eventos no Alto da Boa Vista, também no Rio de Janeiro. “Beleza”, pensou, “vou poder pagar o curso da minha filha e ainda comprar umas coisas lá pra casa”.

Mas, no evento, alguém esqueceu o gás do forno ligado e uma faísca causou uma enorme explosão. Duas pessoas morreram e três se feriram gravemente; Alessandra teve 70% do corpo queimado e passou um mês no hospital.

Deveria ter ficado mais tempo, mas conseguiu convencer os médicos a continuar o tratamento em casa porque os filhos menores queriam saber como ela estava mas não podiam ir ao hospital.

Alessandra diz que no dia do acidente havia R$ 1.200 em casa. A única renda fixa ali é a pensão de R$ 217 que recebe por causa do filho de seis anos. A empresa onde trabalhava a ajuda como pode, mas, com a pandemia, teve de suspender as atividades.

Em maio, quase quatro meses após o acidente, ficou sabendo, por meio de uma amiga, da campanha Ação contra o Corona e fez contato com os responsáveis pelo comitê da sua região. Sua família passou então a receber a ajuda emergencial.

“Todo mês, por volta do dia 15, a gente recebe a cesta da campanha. Ajuda demais. É praticamente a metade do que a gente consome no mês”, conta.

Ela só deve poder voltar a trabalhar em 2023. Mais uma gota no oceano.

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