Depoimento de Roberto Borges Lima, 38 anos, técnico de Enfermagem, trabalha no drive-thru da Arena Fonte Nova, em Salvador.
“Trabalho com a vacinação desde o início da campanha. Vemos muita gente chorando porque finalmente foi imunizada, e até nós, profissionais da saúde, choramos, porque as pessoas depositam confiança na gente.
No sábado passado (dia 20), fui trabalhar num ponto de drive-thru, como já vinha fazendo. Cheguei às 7 horas, como sempre, e tinha sido chamado para trabalhar no dia seguinte. Precisavam de plantões diários para poder atender a filas de carros, de gente, querendo se vacinar.
Quando deu 16h daquele mesmo dia, os estoques chegaram ao final. Foi um grande balde de água fria. Todo mundo ficou triste quando a coordenadora avisou que não continuaríamos com a vacinação. (Salvador foi uma das cidades brasileiras que chegou a interromper a campanha de vacinação em razão dos repasses federais de doses )
Mas também é bom dizer que muitas vezes nem nós mesmos sabemos qual vai ser o próximo passo, se vamos conseguir vacinar, se vai ser o suficiente. Chegamos cedo, saímos tarde, e as coisas mudam muito num dia.
Na segunda, voltei a trabalhar no Posto de Saúde da Família, já que não vacinaríamos mais. As pessoas chegavam no posto perguntando quando ia voltar, quando os avós poderiam ser vacinados. Triste, porque nosso papel é justamente informar, e a gente não sabia como, o que informar. Quando a vacinação voltaria? Se voltaria? As pessoas chegavam, perguntavam, e nada.
É frustrante para a gente não saber responder, porque é nosso dever. Então veio a notícia do retorno, agora com filas gigantescas de gente querendo se vacinar. É uma felicidade. Mesmo que no dia a dia, sejamos até agredidos verbalmente, por conta de casos de profissionais de saúde, nem sei se podemos chamar esses criminosos assim, que fingiram estar vacinando a população.
Agora, sempre chegam três pessoas num mesmo carro, uma para vacinar, outra para filmar e outra para ver se está tudo certo. Todos estão muito armados. /Depoimento a Fernanda Santana, especial para o Estadão