O presidente Jair Bolsonaro realizou nesta terça-feira (24) seu discurso na abertura dos Debates Gerais da 74 Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Ele falou da Amazônia, da ditadura na Venezuela, criticou a mídia, falou de perseguição religiosa, exaltou o combate à corrupção e ao crime durante seu governo e elogiou o ministro Sergio Moro.
O tema das discussões desse ano é “galvanizando esforços multilaterais para erradicação da pobreza, educação de qualidade, ação pelo clima e inclusão”. Tradicionalmente, desde 1949, cabe ao chefe de Estado do Brasil fazer o discurso de abertura, seguido do presidente dos Estados Unidos.
Bolsonaro começou seu discurso afirmando ser uma oportunidade para restabelecer a verdade. “Apresento um novo Brasil que ressurge depois de estar à beira do socialismo, e que esta sendo reconstruído a partir dos ideais do seu povo”.
“No meu governo, o Brasil vem trabalhando para reconquistar a confiança do mundo, diminuindo o desemprego, a violência e o risco para os negócios, por meio da desburocratização, da desregulamentação e, em especial, pelo exemplo. Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam nossas tradições”.
O presidente falou sobre a crise na Venezuela e criticou o programa Mais Médicos, que trazia médicos cubanos para trabalhar no Brasil. “Em 2013 o acordo entre o governo petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos sem nenhuma comprovação profissional. Foi um verdadeiro trabalho escravo, respaldado por entidades de direitos humanos do Brasil e da ONU. Nosso país deixou de contribuir com a ditadura cubana não mais enviando 300 milhões de dólares todos os anos”, disse. “O socialismo está dando certo na Venezuela. Todos estão pobres e sem liberdade”.
Ele disse ainda que o Brasil também sente os impactos da ditadura venezuelana. “Dos mais de 4 milhões que fugiram do país, uma parte migrou para o Brasil, fugindo da fome e da violência. Temos feito a nossa parte para ajudá-los, através da Operação Acolhida, realizada pelo Exército Brasileiro e elogiada mundialmente. Trabalhamos com outros países, entre eles os EUA, para que a democracia seja restabelecida na Venezuela, mas também nos empenhamos duramente para que outros países da América do Sul não experimentem esse nefasto regime”.
Economia
Com relação à economia, Bolsonaro disse que o Brasil está adotando políticas que aproximem o país de outros que se desenvolveram e consolidaram suas democracias. “Não pode haver liberdade política sem que haja também liberdade econômica. E vice-versa. O livre mercado, as concessões e as privatizações já se fazem presentes hoje no Brasil. A economia está reagindo, ao romper os vícios e amarras de quase duas décadas de irresponsabilidade fiscal, aparelhamento do Estado e corrupção generalizada. A abertura, a gestão competente e os ganhos de produtividade são objetivos imediatos do nosso governo”, frisou.
“Estamos abrindo a economia e nos integrando às cadeias globais de valor. Em apenas oito meses, concluímos os dois maiores acordos comerciais da história do país, aqueles firmados entre o Mercosul e a União Europeia e entre o Mercosul e a Área Europeia de Livre Comércio, o EFTA. Pretendemos seguir adiante com vários outros acordos nos próximos meses. Estamos prontos também para iniciar nosso processo de adesão à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Já estamos adiantados, adotando as práticas mundiais mais elevadas em todo os terrenos, desde a regulação financeira até a proteção ambiental”.
Amazônia
Ao falar da Amazônia, o presidente afirmou que o seu governo tem um compromisso solene com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável em benefício do Brasil e do mundo. “O Brasil é um dos países mais ricos em biodiversidade e riquezas minerais. Nossa Amazônia é maior que toda a Europa Ocidental e permanece praticamente intocada. Prova de que somos um dos países que mais protegem o meio ambiente”.
Ele fez questão de frisar que as queimadas nessa época do ano são comuns, devido ao clima seco e aos ventos, que “favorecem queimadas espontâneas e criminosas. Vale ressaltar que existem também queimadas praticadas por índios e populações locais, como parte de sua respectiva cultura e forma de sobrevivência” .
“Problemas qualquer país os tem. Contudo, os ataques sensacionalistas que sofremos por grande parte da mídia internacional devido aos focos de incêndio na Amazônia despertaram nosso sentimento patriótico. É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo. Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista. Questionaram aquilo que nos é mais sagrado: a nossa soberania”.
Bolsonaro aproveitou para relembrar o encontro do G7, que sugeriu aplicar sanções ao Brasil. “Agradeço àqueles que não aceitaram levar adiante essa absurda proposta. Em especial, ao presidente Donald Trump, que bem sintetizou o espirito que deve reinar entre os países da ONU: respeito à liberdade e à soberania de cada um de nós”.
De acordo com o presidente, não haverá aumento nas demarcações das terras indígenas. “Hoje, 14% do território brasileiro está demarcado como terra indígena, mas é preciso entender que nossos nativos são seres humanos, exatamente como qualquer um de nós. Eles querem e merecem usufruir dos mesmos direitos de que todos nós. Quero deixar claro: o Brasil não vai aumentar para 20% sua área já demarcada como terra indígena, como alguns chefes de Estados gostariam que acontecesse”.
E garantiu que ajudas serão bem vindas, desde que respeitada a soberania brasileira. “Quero reafirmar minha posição de que qualquer iniciativa de ajuda ou apoio à preservação da floresta amazônica, ou de outros biomas, deve ser tratada em pleno respeito à soberania brasileira. Também rechaçamos as tentativas de instrumentalizar a questão ambiental ou a política indigenista, em prol de interesses políticos e econômicos externos, em especial os disfarçados de boas intenções. Estamos prontos para, em parcerias, e agregando valor, aproveitar de forma sustentável todo nosso potencial”.
Sérgio Moro
Ao falar da criminalidade, Bolsonaro fez questão de falar do ministro Sérgio Moro. “Seguiremos contribuindo, dentro e fora das Nações Unidas, para a construção de um mundo onde não haja impunidade, esconderijo ou abrigo para criminosos e corruptos”, disse, ao lembrar da prisão do italiano Cesare Battisti e de outros três terroristas paraguaios e um chileno que viviam no país como refugiados políticos. “Terroristas sob o disfarce de perseguidos políticos não mais encontrarão refúgio no Brasil. Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto. Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo no meu país, o Sergio Moro, nosso atual ministro da Justiça e Segurança Pública”.
Criminalidade
Bolsonaro disse que no Brasil eram registrados anualmente cerca de 70 mil homicídios e crimes violentos. E lembrou que só em 2017 cerca de 400 policiais militares foram assassinados. “Isso está mudando. Medidas foram tomadas e conseguimos reduzir em mais de 20% o número de homicídios nos seis primeiros meses de meu governo. As apreensões de cocaína e outras drogas atingiram níveis recorde. Hoje, o Brasil está mais seguro e ainda mais hospitaleiro. Acabamos de estender a isenção de vistos para países como Estados Unidos, Japão, Austrália e Canadá, e estamos estudando adotar medidas similares para China e Índia, dentre outros”.
Para encerrar o tema, Bolsonaro fez um convite. “Com mais segurança e com essas facilidades, queremos que todos possam conhecer o Brasil, e em especial, a nossa Amazônia, com toda sua vastidão e beleza natural. Ela não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia. Cada um de vocês pode comprovar o que estou falando agora. Não deixem de conhecer o Brasil, ele é muito diferente daquele estampado em muitos jornais e televisões”.
Religião
Sobre perseguição religiosa, o presidente disse que esse é um mal que deve ser combatido. “Nos últimos anos, testemunhamos, em diferentes regiões, ataques covardes que vitimaram fiéis congregados em igrejas, sinagogas e mesquitas. O Brasil condena, energicamente, todos esses atos e está pronto a colaborar, com outros países, para a proteção daqueles que se veem oprimidos por causa de sua fé”.
Ele afirmou também que apoia a criação do Dia Internacional em Memória das Vítimas de Atos de Violência baseados em Religião ou Crença. “É inadmissível que, em pleno século 21, com tantos instrumentos, tratados e organismos com a finalidade de resguardar direitos de todo tipo e de toda sorte, ainda haja milhões de cristãos e pessoas de outras religiões que perdem sua vida ou sua liberdade em razão de sua fé. A devoção do Brasil à causa da paz se comprova pelo sólido histórico de contribuições para as missões da ONU. Há 70 anos, o Brasil tem dado contribuição efetiva para as operações de manutenção da paz das Nações Unidas”.