Campo Grande inteira sentiu a perda do comerciante José Thomaz, que morreu nesta segunda-feira (11), aos 98 anos. Conhecido por suas esfirras e por não anotar as comandas dos clientes, confiando na palavra dos mesmos, o libanês deixou um legado que a família pretende continuar.
Thomaz foi enterrado no Cemitério Jardim das Primaveras logo após o fim de seu velório, na tarde desta segunda (11). Em conversa com o Jornal Midiamax na manhã desta terça (12), Ricardo Thomaz, filho do comerciante, comenta como está a família e qual será o futuro da esfirraria mais famosa da Capital após a morte de seu fundador.
Conforme Ricardo, a família está bem. A viúva, dona Marina Mazini, de 82 anos, está assistida pela família e, segundo o filho, tranquila. “Ele deixou um conforto pra nós e seu legado aqui, quase 99 anos. Nunca a gente quer a partida, mas temos que entender que ele cumpriu o papel dele”, diz Ricardo ao MidiaMAIS.
“Sempre foi o desejo dele”
Em luto, as unidades do Thomaz Lanches fecharam as portas na segunda-feira (11), mas já reabriram nesta terça. Questionado pelo Midiamax se algo vai mudar no atendimento e em relação à não anotação das comandas, o herdeiro e já responsável pela loja há alguns anos responde.
“Hoje é vida que segue. Vai ficar como está e como sempre foi. Esse sempre foi o desejo dele, vamos continuar o legado que nos deixou e como a gente já vinha fazendo as vezes que ele ficou acamado. E assim será, sempre”, afirma o filho.
Em relação às mudanças, o herdeiro, que cuida das esfirrarias com outro irmão, comenta: “A gente pretende fazer umas melhorias só, estamos crescendo e assim vamos continuar. Vamos dar sequência no que ele deixou pra gente”, encerra Thomaz.
O segredo de José Thomaz
Campo Grande perdeu nesta segunda-feira (11) um de seus maiores ícones representantes da gastronomia que simboliza a Capital de MS. O libanês José Thomaz morreu de causas naturais, aos 98 anos, mas deixa um legado imensurável para a sociedade campo-grandense.
Não apenas pelo sabor, mas pelo método incomum de cobrança, baseado na confiança com o cliente. Sua esfirraria, localizada na Rua Sete de Setembro na Capital, atrai visitantes que, muitas vezes, só passam por lá para experimentar o atendimento.
A esfirra sempre foi e continua sendo um marco, eleita de forma unânime pela população como “a melhor”. Para os moradores da Capital, o comerciante de origem libanesa representou mais que um vendedor de esfirras: a atitude de não anotar as comandas e confiar no que o cliente declara ter consumido sempre causou em todos a sensação de “sou honesto e confiam na minha honestidade”.
Por isso, ir à lanchonete Thomaz Lanches significa para o consumidor, em mais de quatro décadas, uma experiência que atinge o íntimo da população. Com a cultura de não anotar os pedidos, o libanês dizia a todos, de forma implícita: “confio em vocês”.
E quem não quer se sentir confiável?
Proporcionar o bom sabor, junto ao fato de possibilitar à população se mostrar honesta e correta em público, consolidou a lanchonete que funciona há 45 anos em Campo Grande.
Para os campo-grandenses, esse foi o segredo que Thomaz usou para fidelizar a clientela em mais de quatro décadas, atravessando gerações: oferecer confiança e acreditar na integridade de todos, mesmo que alguns eventualmente pudessem “passar a perna”.
Ser um comerciante que “confia na palavra” do cliente deu a José Thomaz respeito e fez o mesmo se tornar uma figura admirável em Campo Grande. Indo além da admiração pelos salgados deliciosos, ele ganhou ainda mais respaldo pela postura quase inacreditável como empreendedor.
Entre os seis filhos do fundador, José Thomaz Filho e Ricardo Thomaz ficaram responsáveis por gerenciar os negócios, que hoje já incluem uma segunda unidade na Avenida Bom Pastor. E as receitas da família e o ingrediente principal — a confiança nos clientes, que não têm os pedidos anotados — continuam sendo seguidos à risca.