(FOLHAPRESS) – A menos de oito meses da eleição municipal, poucos partidos anunciaram seus candidatos para o pleito de outubro em São Paulo.Os principais campos políticos que orbitam em torno de Jair Bolsonaro (sem partido), Lula (PT) e João Doria (PSDB) seguem permeados por indefinições.A força eleitoral que despontou em 2018 com Bolsonaro ainda não tem representante em solo paulistano. Até agora, o postulante com mais chance de receber o apoio do presidente é José Luiz Datena. O apresentador da TV Bandeirantes, no entanto, avalia se quer ser candidato em 2020 –ele já ensaiou candidatura em anos passados e desistiu.Apesar de ter a preferência de Bolsonaro, Datena não abandonou outras opções de seu leque. O apresentador é próximo de Márcio França (PSB) e discute com ele a formação de uma chapa em 2020. A relação com partidos de esquerda, inclusive o PT, ao qual foi filiado de 1992 a 2015, cria resistência de ativistas bolsonaristas ao nome de Datena.O problema é que os militantes da nova direita não têm outra opção no momento.
Até Paulo Skaf, presidente da Fiesp, que é o principal aliado de Bolsonaro em São Paulo e pode ser seu candidato a governador em 2022, é cogitado como plano B neste ano.Há ainda outra dificuldade: o partido que Bolsonaro quer criar, a Aliança pelo Brasil, tem poucas chances de estar de pé a tempo de lançar candidatos em 2020. Entre os apoiadores do presidente, porém, despontam nomes que poderiam concorrer como seus representantes, ainda que seja preciso buscar outros partidos para abrigá-los.É o caso do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), do ministro Ricardo Salles (suspenso do Novo) e do deputado federal Marco Feliciano (sem partido). Feliciano reforçaria a ponte entre Bolsonaro e os evangélicos, mas ele diz que não pretende concorrer e que seu candidato é Datena.Outro que abre as portas do eleitorado evangélico é Celso Russomanno (Republicanos), que pode apoiar a reeleição de Bruno Covas (PSDB) ou lançar-se candidato, como fez nas últimas duas eleições. Por seu desempenho anterior, o deputado federal é visto pelos adversários como alguém que larga na frente, mas não chega ao segundo turno.Parte da cúpula da Aliança pelo Brasil em São Paulo acredita que, com o cenário embolado na direita, não vale a pena para Bolsonaro chancelar um candidato.
Ao manter-se fora da disputa, o presidente evita desgaste com eventual derrota de seu escolhido e pode assistir aos postulantes se digladiarem perante o eleitorado para decidir qual é o mais bolsonarista, numa aposta de que o fenômeno eleitoral de 2018 ainda não morreu.Já aliados de Bolsonaro que estão em contato com militantes de rua, membros de grupos conservadores de direita, não veem sentido na abstenção do presidente na maior cidade do país. Os ativistas, dizem, estão à espera de um sinal do Palácio do Planalto para decidirem seu candidato.Outras eventuais candidaturas que correm por fora na direita, sem necessariamente despertarem a simpatia de Bolsonaro, mas ao mesmo tempo flertando com o bolsonarismo, são a de Andrea Matarazzo (PSD) e Arthur do Val (Patriota). Esse último faz parte do MBL (Movimento Brasil Livre), que rompeu com o presidente após apoiá-lo no segundo turno de 2018.Embora seja alvo dos apoiadores de Bolsonaro, que o classificam como traidor, Arthur mira o mesmo eleitorado do presidente com um discurso liberal na economia e conservador nos costumes.Está abrigado em um partido que, na falta da Aliança, abriu as portas para bolsonaristas. Conta ainda com o apoio de Janaina Paschoal (PSL), que tem atuação independente, mas não abandonou a defesa do governo federal. É também por meio da aliança com Janaina que Matarazzo se aproxima dessa nova direita.Se o campo político que emergiu em 2018 não está organizado, tampouco há definição entre aqueles que polarizam o jogo há mais tempo -PT e PSDB.Entre os tucanos, foi o acaso que bagunçou o cenário.
A busca pela reeleição de Covas, vista como um caminho mais provável, tropeçou na notícia divulgada em outubro passado de que o prefeito enfrenta um câncer no estômago com metástase no fígado.Após bons resultados de quimioterapia, mas ainda pendente de uma cirurgia que será avaliada nas próximas semanas, Covas está em condições de concorrer, segundo seus aliados. Mais do que isso: a doença tornou o prefeito mais conhecido e aumentou suas chances eleitorais.Por outro lado, a incerteza sobre Covas ainda paira no PSDB, que cogita uma chapa pura justamente para eventualidade de ele não estar apto para a campanha.Uma vitória do PSDB em São Paulo, quintal de Doria, é considerada importante para viabilizar o projeto do governador de concorrer ao Palácio do Planalto em 2022.Ao mesmo tempo, o tucano faz outras apostas. Ele também seria beneficiado com a eleição de Filipe Sabará (Novo), que foi seu secretário de Assistência Social, ou de Joice Hasselmann (PSL), de quem é amigo. A expectativa eleitoral da deputada federal, no entanto, murchou após sua briga com o clã Bolsonaro.O PT é outro partido que enfrenta dificuldade em São Paulo. O principal nome petista, o ex-prefeito Fernando Haddad, resiste a concorrer e, após ter chegado ao segundo turno contra Bolsonaro em 2018, desempenha um papel nacional na legenda.
Como as chances de que Lula esteja habilitado a concorrer em 2022 são baixas, ele pode voltar a ser presidenciável.Como mostrou a Folha, a pressão para que Haddad concorra, no entanto, cresce no PT. Seus aliados acreditam que ele pode chegar ao segundo turno, mas admitem que será difícil bater o favoritismo que veem em Covas.O que empurra o movimento pró-Haddad é o receio de uma derrota petista ainda maior caso o partido concorra com algum dos sete nomes inscritos em prévias, marcadas para 22 de março. Na briga interna, o ex-deputado Jilmar Tatto é quem tem maior apoio.O PT tem ainda uma carta na manga: Marta Suplicy (sem partido) indica que pode formar chapa com Haddad, o que também eleva a pressão sobre o ex-prefeito. Marta tem acerto mais avançado com a Rede para se filiar, mas ainda conversa com outras siglas.Outro que tenta uma alternativa na esquerda é França.
O ex-governador tem se aproximado das mesmas legendas que rodeiam Marta, como PDT, Solidariedade, PV, Rede e Avante.Para o cientista político Glauco Peres da Silva, a indefinição em São Paulo a esta altura tem a ver com a eleição de 2018. “O padrão que existia, do PT organizando a esquerda e o PSDB organizando a direita, foi rompido. Então os partidos ainda estão tentando entender o comportamento do eleitor, qual o papel da internet e do WhatsApp, quem tem chances de vencer”, diz.”Como os partidos não conseguem prever direito, as decisões demoram a ser tomadas, porque eles querem reunir o maior número de informação possível”, completa o professor da USP.Na capital paulista há ainda um agravante.
“Quem disputa a eleição em São Paulo pode ser um presidenciável em 2022 ou em 2026”, afirma Silva.Segundo o professor, é justamente a eleição de 2020 que vai colocar o bolsonarismo à prova e dar pistas às legendas sobre como esse novo arranjo de forças eleitorais se comporta. “É a primeira informação concreta para 2022.”