Afinal, o que são as comorbidades? O assunto tem especial relevância neste momento, em que avança a lista dos grupos prioritários que devem ser vacinados e protegidos contra o coronavírus.
De maneira direta, comorbidades são aquelas doenças ou condições prévias associadas a uma piora da saúde que acompanham o indivíduo quando uma outra -no caso, a Covid-19- se instala.
Alguns casos são mais corriqueiros, como obesidade, diabetes, hipertensão e doença renal crônica: todas são doenças que pioram o prognóstico, isto é, aumentam a probabilidade de uma pessoa ficar com Covid-19 por mais tempo, de apresentar uma forma mais grave e mesmo de morrer.
Isso acontece porque todas essas condições alteram a circulação do sangue prejudicando ou o livre fluxo de nutrientes ou a eliminação de toxinas. O Sars-CoV-2, ao longo da infecção, tem pronunciada capacidade de atrapalhar o funcionamento normal do pulmão e dos vasos. A combinação entre o estado preexistente e o impacto da invasão pode ser devastadora.
A estimativa é que 20% dos adultos no Brasil sejam hipertensos, 27% tenham obesidade (e mais de 60% estejam acima do peso) e cerca de 10% da convivam com diabetes (número muito subestimado); pacientes com problemas renais são cerca de 1,4% da população.
Isso sem falar de pessoas com asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e outras doenças pulmonares, aquelas que tenham anemias e doenças no fígado, ou ainda quem tenha passado por transplantes e certos tratamentos oncológicos ou use remédios imunossupressores -todas condições associadas à ocorrência de infecções mais graves.
Outra comorbidade considerada no contexto da Covid-19 é a síndrome de Down, que ocorre quando a pessoa tem três cópias do cromossomo 21 (em geral, são duas). Estimativas dão conta que haveria cerca de 3 milhões de pessoas com a condição no Brasil.
É comum a presença de doenças do sistema cardiovascular em pessoas que têm síndrome de Down. Em algumas populações calcula-se que mais de 40% das crianças com down já nasçam com anormalidades no coração, dificultando a resolução da infecção pelo Sars-CoV-2.
No somatório desse rol de comorbidades, o governo federal calcula que existam quase 18 milhões de pessoas. O número provavelmente é menor do que o real, já que muitas das condições ficam um longo tempo sem diagnóstico.
E há outras questões. Para a finalidade de vacinação anti-Covid-19, a hipertensão só é considerada quando não há controle adequado com três medicamentos, a chamada hipertensão arterial resistente, ou quando há complicadores, como presença de outras comorbidades.
Outro exemplo: a obesidade que dá direito à prioridade é só a mórbida, com IMC maior ou igual a 40 (o cálculo é feito pela divisão do peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros).
A previsão do governo federal é que essas pessoas sejam vacinadas a partir de maio, mas já há localidades em que isso foi antecipado para alguns grupos.
Também podem ser consideradas comorbidades outras condições, como abuso de drogas e transtornos psiquiátricos, mas, nesses casos, não está prevista qualquer prioridade na vacinação.
Condições naturais, como idade avançada e gravidez, apesar de eventuais riscos de saúde associados, não são consideradas comorbidades. Desde o início da pandemia se sabe, porém, do maior risco que correm os mais velhos, que, além de terem uma maior fragilidade dos órgãos e sistemas do corpo, carregam mais frequentemente outras condições, como diabetes, hipertensão e doenças pulmonares.
Segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doença) dos Estados Unidos, o risco de uma mulher grávida ter formas graves da Covid-19 é maior que o da população em geral, apesar da relação entre a infecção e a gravidez não ter sido completamente desvendada.
A gravidez por si só está associada à ocorrência de eventos trombóticos e de problemas como o diabetes gestacional. Além disso, existe a possibilidade de as alterações no corpo da mulher favorecerem uma eventual infecção.
Ainda não foram concluídos os estudos clínicos de vacinas contra a Covid-19 nesse público, ou seja, não há informações conclusivas sobre segurança e eficácia. Testes em animais prenhes (gestando filhotes), porém, não levantaram questões de segurança –não houve sinais de anomalias na prole.
Em algumas localidades, como na cidade de São Paulo, é possível que uma grávida seja imunizada, desde que faça parte de alguns dos outros grupos prioritários, como indígenas e trabalhadores da saúde.
FOLHAPRESS